A atriz e diretora de cinema Normal Bengell, depois de ler matéria minha publicada no jornal “Cinco de Outubro”, intitulada “As crises do cinema brasileiro”, enviou-me uma carta que me deixou com o ego inflado.Mar de Rosas aborda o comodismo, a alienação, a intolerância e o medo na vida de dois grupos familiares no eixo Rio-são Paulo.
A câmera da diretora Ana Carolina indaga o tempo todo: Com quem está o poder na realidade brasileira?
Considerada uma das personalidades mais importantes, polêmicas e sensuais do cinema nacional, “Norminha, meu Bengell”, como se expressou Stanislaw Ponte Preta em 1958 quando Norma trabalhava na boate Night and Day no Hotel Serrador, simplesmente me disse em sua missiva: "Beto, é um prazer falar com você via internet, principalmente diante da sua explicação tão lúcida sobre nós. Só um homem sensível e culto como você – que ainda não tive a honra de conhecer pessoalmente, infelizmente – poderia escrever artigo tão lúcido e verdadeiro. Um feliz ano 2000, saúde, inteligência e vida da sempre amiga (pode assim me considerar a partir de hoje) Norma Bengell. P.S.: Mande o seu artigo para o ministro da cultura para ele aprender conosco o que é a nossa vida. Depois que li sua carta, tive vontade de te mandar esta que escrevi do fundo coração. Grande abraço. N.B."
À parte os elogios de minha sempre admirada Norma, desde que quando assisti, em 1978, no Cineclube Antônio das Mortes, a “Os Cafajestes”, dirigido por Ruy Guerra em 1962, vale a pena ressaltou o desabafo verdadeiro de uma artista que vem atravessando cinco décadas dentro do imaginário coletivo de diversas gerações amantes do cinema brasileiro. A íntegra desse desabafo (*) reproduzo no final desse artigo.Para quem não tem o devido conhecimento sobre essa musa, diva do Cinema Novo, vale lembrar que em 1959, Norma Aparecida Almeida Pinto Guimarães D’Áurea Bengell (nascida no RJ em 21 de fevereiro de 1935, filha de pai alemão e de mãe de família rica deserdada após o casamento) estreou como cantora-atriz, na pele de BB, personagem de “O Homem do Sputnik” que satiriza Brigitte Bardot. Tive o prazer de rever o filme recentemente numa oficina de cineclubismo de que participei em Belo Horizonte (MG), em que o diretor Carlos Manga busca a modernidade brincando com a Guerra Fria por causa da suposta queda do satélite russo Sputnik no Brasil – na verdade um bólide metálico que cai no galinheiro de um caipira. Trata-se de uma das melhores comédias do cinema brasileiro, cujo argumento de José Cajado Filho cria uma trama movimentada e divertida, que parodia russos, norte-americanos e franceses, além de criticar a imprensa em geral. O homem-título do filme é Oscarito, mas a sátira vale, essencialmente, pela escultural e irresistível La Bengell.
Tanto que, em 1961, Anselmo Duarte convidou-a para interpretar a prostituta Marli, explorada pelo cáften Geraldo Del Rey, no filme “O Pagador de Promessas”. Aliás, gostaria de abrir parênteses sobre o meu comentário durante o bom debate após a sessão de abertura do Café com Cinema da Cara Vídeo, promovida pelo Cineclube Paradiso, como parte do projeto Cine + Cultura da Associação Brasileira de Documentaristas (ABD-GO), no dia 31 de março último. (Por sinal, de triste memória desde 1964, início dos anos de chumbo.).Na minha modesta opinião, o filme tem em sua maior preocupação destacar a sincera ingenuidade e devoção do povo, em oposição à burocratização imposta pelo próprio sistema católico em sua organização interior. O texto de Dias Gomes chega a ser maniqueísta aos desmascarar, sem sutilezas, os oportunistas. Tanto o segmento social da cidade, que quer tomar partido da situação da melhor forma possível para eles, quanto o vigário local, que barra o Zé do Burro, impedindo-o de entrar na igreja carregando a cruz fruto de sua promessa e os clérigos, que exigem de Zé uma "retificação" de sua promessa, como também os jornalistas que se interessam pelo caso levantando a bandeira em defesa da "liberdade de expressão" que o vigário estaria colocando em jogo, ou pelo menos pretendem parecer estar fazendo isso, quando na verdade, como é colocado na primeira cena dentro da redação do jornal, eles precisam de notícias que façam dinheiro, e não de notícias de qualidade. Aos olhos da imprensa, o Zé Povinho passa a ser um exemplo dos excluídos sociais e tem a ele agregado o ideal de injustiça e liberdade desejado pelo povo, é associado à "revolução" social, à "reforma agrária" e classificado como "comunista" - sem ao menos ter idéia do que são estes conceitos tão alienígenas ao seu universo.Obviamente que, em meu comentário, ressaltei que o filme conta com uma produção técnica excelente, apoiada pela fotografia de Chick Fowle (como alguns ângulos de câmera que colocam os clérigos sempre de forma superior, enquanto o protagonista é focado com uma câmera baixa, mas também quando a câmera coloca, na sequência final, a igreja de cabeça para baixo e a visão de Zé sentado à escadaria sendo filmado através das grades, preso a situação em que está, mostrando alguns toques especiais). É destacável também a montagem concisa de Carlos Coimbra e excelente e segura direção de Anselmo Duarte, um estreante, que faz excepcional trabalho com os atores (destacam-se Leonardo Vilar, passando toda a humildade e sinceridade de Zé do Burro, e Glória Menezes como sua companheira aflita, assim como Norma Bengell que passa grande credibilidade retratando uma personagem instável e difícil) e consegue um gradual desenvolvimento da narrativa até o clímax final, que se fecha de forma densa e sublime.
Por sua atuação em “O Pagador de Promessas”, vencedor da Palma de Ouro em Cannes no ano de 1962, Norma Bengell teve a oportunidade de tornar-se uma estrela internacional. De Cannes, ela seguiu para a Itália, onde conheceu o produtor Dino di Laurentis, contracenando na Europa com Alberto Sordi, Jean-Louis Trintignant, Renato Salvatore, Catherine Deneuve, Enrico Sordi e Maria Salerno. Trabalhou na França também com Patrice Chéreau, no Théâtre National Populaire.Entretanto, sem dúvida alguma, o filme que a consagrou definitivamente foi “Os Cafajestes” (1962), um drama moderníssimo influenciado pela Nouvelle Vague. Produção tumultuada, foi o primeiro filme no Brasil dirigido pelo moçambicano Ruy Guerra (“Os Fuzis”, de 1963), um clássico do Cinema Novo que causou escândalo ao exibir o primeiro nu frontal da história do cinema brasileiro. Protagonizado por Hugo Carvana e Jece Valadão, dois vigaristas que levam Norma Bengell para tirar umas fotografias em praia deserta, com intenção de fazer chantagem. Sempre polêmica, temperamental e de difícil trato, Norma sofreu grande perseguição dos setores conservadores por conta dessa cena em que aparece nua na praia, sofrendo ataques da Igreja e das mulheres da organização Tradição, Família e Propriedade (a famigerada TFP). Por sinal, em 1962, ao ser convidada a participar de um show de Bossa Nova na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, a excomungada Norma foi impedida pelos padres da PUC-RJ de cantar, porque se declarou a favor da pílula anticoncepcional.
Em 1964, depois de voltar ao Brasil, após seu giro pela Europa, Norma Bengell atuou em “Noite Vazia”, de Walter Hugo Khoury, outro filme polêmico e fundamental. Ao lado de Odete Lara, Bengell lança-se numa noite de prazer que acaba em tédio e angústia. É um dos filmes mais expressivos do cinema brasileiro dos anos 1960, com ótima fotografia em preto-e-branco de Rudolph Icsey, com destaque também para as atuações de Mário Benvenuti e Gabriele Tinti. Na época, o filme provocou polêmica, pela sinceridade com que aborda o tema da sexualidade. Abriu o caminho para uma temática sempre perseguida pelo diretor: a da procura, da busca de perspectivas ainda unida à solidão, às crises existenciais e morais. O filme delimita a temática e o estilo de Khoury entre o sueco Ingmar Bergman e o italiano Michelangelo Antonioni.
Ainda em 1964, Norma Bengell foi sequestrada pelo DOI-CODI. Decidiu então autoexiliar-se em Paris. Ao retornar ao Brasil, cinco anos depois do autoexílio na França, ela deu sequência a uma bem-sucedida carreira brasileira e brilhou em filmes de cineastas de diferentes escolas. Participou de “O Anjo Nasceu”, de Júlio Bressane, filme onde o diretor descreve errâncias nas asas do desejo, com uma narrativa acronológica, mostrando marginais de segunda classe que “voam” sem sentido numa paisagem cinzenta e depressiva, Com Rogério Sganzerla, em 1977, ela faria “Abismu” em que, na Pedra Bonita do Rio de Janeiro, ocorre um crime que deixa um egiptólogo como testemunha a ser seguida por Madame Zero (Norma Bengell), contratada pelos assassinos. A partir dessa trama Sganzerla fala sobre o misticismo e a condição humana.Com diretores do Cinema Marginal, além de “Abismu”, atua também em “Tabu”, de Júlio Bressane; com diretores do Cinema Novo em “A Idade da Terra”, de Glauber Rocha, “Os Deuses e os Mortos”, de Ruy Guerra e “A Casa Assassinada”, de Paulo César Saraceni.
Atuou ainda com novos cineastas como Ana Carolina em “Mar de Rosas”, e Jorge Duran de “A Cor do Seu Destino”.Norma Bengell chegou também a gravar discos como cantora: “Oh Norma!” e “Norma Canta Mulheres” são títulos de dois de seus trabalhos.
Ela também se enveredou para a direção. Sua primeira incursão como diretora se deu ainda na década de 1970, com o curta-metragem “Maria Gladys, Uma Atriz Brasileira”, realizado em 1979, em que assina a direção e o roteiro. No mesmo ano escreve e dirige outro curta, “Barco de Iansã”, em que focaliza uma festa de candomblé no Rio de Janeiro. Em 1980, ela escreve e dirige seu terceiro curta, “Maria da Penha”, sobre o universo das creches para meninos abandonados.
Em 1987, Norma Bengell estreia no formato longa-metragem levando para às telas a vida de Patrícia Galvão, musa do surrealismo, em “Eternamente Pagú”. Protagonizado por Carla Camurati, que ganhou o Troféu Kikito de melhor atriz no Festival de Gramado, na pele de uma das mais polêmicas figuras do modernismo brasileiro nos seus tumultuados relacionamentos com grandes personalidades da intelectualidade - como Oswald de Andrade com quem viveu, ao lado de Tarsila Amaral, um triângulo amoroso – o filme tem um roteiro linear e carente de dramaticidade, tendo enfrentado problemas financeiros que comprometeram a produção.
Em 1996 realizou seu segundo e último longa até agora, “O Guarani”, versão que tem no elenco Márcio Garcia, Tatiana Issa, Glória Pires, Herson Capri e Marco Ricca. O filme foi muito mal recebido pela crítica, levando Norma a reagir exaltadamente sob a alegação de estar sendo vítima de perseguição política.Norma Bengell entrou os anos 2000 ao realizar o média-metragem “Infinitivamente Guiomar Novaes”, realizado em 2003. Trata-se de uma arrebatadora história de amor, de Maria Stella Orsini, que não só preenche uma lacuna na história da cultura brasileira, como torna o nome de Guiomar mais conhecido pelo povo que ela tanto amava. Ao revelar uma artista tão plena, Norma Bengell busca resgatar, das sombras do esquecimento, aquela que foi considerada uma das mais extraordinárias entre os maiores pianistas de todos os tempos. O documentário, de 43 minutos de duração, demonstra que não se pode escrever a história da música no Brasil, sem lembrar o nome de Guiomar, tão exaltado no exterior, mas tão pouco reconhecido entre nós. Durante 71 anos, numa longa carreira de sucessos, ela se destacou pelo estilo requintado e por sua elegância despretensiosa, favorecidos por uma técnica magistralmente dominada e pelo mais perfeito entendimento da linguagem musical. Tudo isso aliado ao incomparável som cantante e uma ilimitada riqueza de efeitos de sonoridade que encantaram várias gerações, Guiomar é uma pianista que surpreende pela originalidade criadora em suas interpretações. Que o público brasileiro deste milênio redescubra esta artista maior e se encante com o cantar de sua alma em seus dedos mágicos.
(*) O desabafo da musa do cinema novo
“Beto, é um prazer falar com você via internet, principalmente diante da sua explicação tão lúcida sobre nós. Só um homem sensível e culto como você – que ainda não tive a honra de conhecer pessoalmente, infelizmente – poderia escrever artigo tão lúcido e verdadeiro. Um feliz ano 2000, saúde, inteligência e vida da sempre amiga (pode assim me considerar a partir de hoje) Norma Bengell. P.S.: Mande o seu artigo para o ministro da cultura para ele aprender conosco o que é a nossa vida. Depois que li sua carta, tive vontade de te mandar esta que escrevi do fundo coração. Grande abraço. N.B.”
Não precisa levar ao pé da letra, mas o que sinto no fundo do coração é que nós artistas brasileiros no geral somos pedintes. Eu, da minha parte, estou cansada de pedir. Pede-se ao governo as leis, eles dão, afinal as leis são para pedir; pede-se, pede-se, pede-se! Qual é a diferença entre um artista pedinte e o pedinte das ruas? A humilhação é a mesma; têm uns que dão, outros que dizem não, outros que te atendem uma vez gentilmente e nunca mais te atendem, e você continua insistindo para não morrer na praia e de fome, porque a nossa profissão não é respeitada, e nós, para produzirmos, precisamos do dinheiro ou do estado ou das empresas, não somos uma indústria cultural. Somente quem está numa empresa como a Rede Globo tem o privilégio de ser chamado para comerciais, e assim ganham seu dinheiro sem serem pedintes; montam suas peças de teatro, o público vai ver seus mitos, que ganham mais dinheiro. Bendito sejam eles!
Hoje resolvi que não peço mais nada a ninguém, não quero mais, tenho uma carreira internacional, sempre fui amada e respeitada nos países que trabalhei, sempre elevando o nome do meu país. Me lembro do dia da estreia da peça de Marivaux em Paris: fiquei tão emocionada de estar pisando no palco mais importante da Europa, que senti um orgulho enorme em ser brasileira e me sentia como alguém que estava representando todos os atores brasileiros naquele palco dirigida por Chéreau, o melhor da Europa que me encontrou por um acaso na rua, havia visto meus filmes italianos e me convidou para estrelar a peça de Marivaux. Eu, com todo o sucesso e carinho que recebia, só pensava em voltar para o Brasil. Meus amigos dizem que sou igual ao Tom Jobim. Lembro-me que quando o avião o avião começava a contornar o Rio, era sempre na Varig que eu vinha, eu pedia uma guaraná, ouvia o samba do avião e meu coração sangrava de emoção e de alegria. Deixei vários filmes, convites importantes por este país que me dava esperanças de um futuro melhor.E assim foi, voltei para virar pedinte, para ver meus amigos morrerem como o Glauber, pedindo dinheiro para filmar. Ele morreu nos meus braços, eu vi a morte de um gênio pedinte. Não se assustem com este grito, mas somos pedintes, abandonados e não temos espaço para nossas obras. Mas gostem ou não, são nossas. Vou deixar de fazer cinema, quero ser feliz, não quero frustrações, não quero ver meus amigos e inimigos com vontade de fazer um filme e não poderem, porque para alguns as portas não abrem nem para dizer NÃO. É tudo controlado, é tudo como é o Brasil: pedintes.
Desde 68 que peço patrocínio para peças, filmes, depois veio o exílio e lá, por incrível que pareça, fui feliz, não era pedinte, era uma artista respeitada. Às vezes, eu até ria ao ouvir o diretor de cena me chamar, pois era a minha hora de entrar em cena, de ‘Madame Bengell, em cena por favor!’. Os maldosos podem dizer: ora, por que não ficou lá? Já respondo logo: por amor e carinho por uma nação e uma cultura; sentia falta de falar português, ser estrangeiro é terrível, é ser estranho ao lugar, tenho o maior amor e respeito aos imigrantes.Quando trabalhei com Maria Casares, na peça do Genet ‘Les Paravants’, dirigida ainda por Chéreau, em 83, um dia estava diante da musa de Camus e me senti tão honrada que esqueci o texto, ela me olhava espantada e de repente o texto voltou à minha cabeça. No final da peça ela me chamou e me disse: ‘Ça, cest léxile!’E quando terminou meu contrato, voltei e fiquei aqui, para virar pedinte, junto com todos vocês. Pedinte, e quando conseguimos, existem desconfianças sobre o nosso procedimento. Acho que é demais. Para mim, basta! Não tenho mais estrutura para este sofrimento, minhas portas agora estão abertas e não estão mais fechadas como noticiou a coluna do SWAN. Estou livre, completamente livre, não quero e nem vou pedir mais nada a ninguém, eu mesma retirei minhas amarras, faço minha revolução humana, vamos ver o que será o futuro, isto é liberdade.Agradeço a todos que me apoiaram nesta minha estória que para mim é trágica, mas tudo será esclarecido e minha moral restaurada diante do público que me prestigiou.
Um abraço desta sua amiga que trabalha há 49 anos no show business e há 45 anos no cinema, e eu sempre disse: corro atrás da felicidade e no momento que o cinema quiser me fazer infeliz, não por culpa dele mas por culpas obscuras, eu deixaria esta profissão, não quero ser a dona da palavra, a melhor atriz ou a melhor diretora, quero ser apenas uma artista em busca de emoções e modificações neste mundo.
Norma Bengell.”
(Carta publicada no jornal “Cinco de Outubro” – Goiânia (GO), 29 de dezembro de 1999)
Apenas um lembrete: para quem não sabe, Stanislaw Ponte Preta era o pseudônimo do jornalista Sérgio Marcus Rangel Porto (nascido no Rio de Janeiro em 11 de janeiro de 1923 e falecido no dia 30 de setembro de 1968) foi um cronista, escritor, radialista e compositor brasileiro.Sérgio começou sua carreira jornalística no final dos anos 40, atuando em publicações como as revistas Sombra e Manchete e os jornais Última Hora, Tribuna da Imprensa e Diário Carioca. Nesse mesmo período Tomás Santa Rosa também atuava em vários jornais e boletins como ilustrador. Foi aí que surgiu o personagem Stanislaw Ponte Preta e suas crônicas satíricas e críticas, uma criação de Sérgio juntamente com Santa Rosa - o primeiro ilustrador do personagem -, inspirado no personagem Serafim Ponte Grande de Oswald de Andrade. Porto também contribuiu com publicações sobre música e escreveu shows musicais para boates, além de compor a música "Samba do Crioulo Doido" para o teatro rebolado.Conhecedor de Música Popular Brasileira e jazz, ele definia a verdadeira MPB pela sigla MPBB - Música Popular Bem Brasileira. Era boêmio, de um admirável senso de humor e sua aparência de homem sisudo escondia um intelectual peculiar capaz de fazer piadas corrosivas contra a ditadura militar e o moralismo social vigente, que fazem parte do FEBEAPÁ - Festival de Besteiras que Assola o País, uma de suas maiores criações. Foi também o criador e produtor do concurso de beleza “As Certinhas do Lalau”, onde figuravam vedetes de primeira grandeza, como: Anilza Leoni, Diana Morel, Rose Rondelli, Maria Pompeo, Irma Alvarez e, claro, Norma Bengell.O FEBEAPÁ tinha como característica simular as notas jornalísticas, parecendo noticiário sério. Era uma forma de criticar a repressão militar já presente nos primeiros Atos Institucionais (que tinham a sugestiva sigla de AI). Um deles noticiou a decisão da ditadura militar de mandar prender o autor grego Sófocles, que morreu há séculos, por causa do conteúdo subversivo de uma peça encenada na ocasião (anos 1960). Satirizando o colunista Jacinto de Thormes (pseudônimo de Maneco Müller), Porto, na pele de Stanislaw, criou uma seção chamada "As Certinhas do Lalau", onde cada edição falava de uma musa da temporada, e muitas vedetes e atrizes foram eleitas "certinhas" pela pena admirável do jornalista. Porto, que morreu de infarto aos 45 anos de idade, não viveu para presenciar o Ato Institucional Nº 5, mas em sua memória um grupo de jornalistas e intelectuais fundou o semanário “O Pasquim”, em 1969.
Apenas um lembrete: para quem não sabe, Stanislaw Ponte Preta era o pseudônimo do jornalista Sérgio Marcus Rangel Porto (nascido no Rio de Janeiro em 11 de janeiro de 1923 e falecido no dia 30 de setembro de 1968) foi um cronista, escritor, radialista e compositor brasileiro.Sérgio começou sua carreira jornalística no final dos anos 40, atuando em publicações como as revistas Sombra e Manchete e os jornais Última Hora, Tribuna da Imprensa e Diário Carioca. Nesse mesmo período Tomás Santa Rosa também atuava em vários jornais e boletins como ilustrador. Foi aí que surgiu o personagem Stanislaw Ponte Preta e suas crônicas satíricas e críticas, uma criação de Sérgio juntamente com Santa Rosa - o primeiro ilustrador do personagem -, inspirado no personagem Serafim Ponte Grande de Oswald de Andrade. Porto também contribuiu com publicações sobre música e escreveu shows musicais para boates, além de compor a música "Samba do Crioulo Doido" para o teatro rebolado.Conhecedor de Música Popular Brasileira e jazz, ele definia a verdadeira MPB pela sigla MPBB - Música Popular Bem Brasileira. Era boêmio, de um admirável senso de humor e sua aparência de homem sisudo escondia um intelectual peculiar capaz de fazer piadas corrosivas contra a ditadura militar e o moralismo social vigente, que fazem parte do FEBEAPÁ - Festival de Besteiras que Assola o País, uma de suas maiores criações. Foi também o criador e produtor do concurso de beleza “As Certinhas do Lalau”, onde figuravam vedetes de primeira grandeza, como: Anilza Leoni, Diana Morel, Rose Rondelli, Maria Pompeo, Irma Alvarez e, claro, Norma Bengell.O FEBEAPÁ tinha como característica simular as notas jornalísticas, parecendo noticiário sério. Era uma forma de criticar a repressão militar já presente nos primeiros Atos Institucionais (que tinham a sugestiva sigla de AI). Um deles noticiou a decisão da ditadura militar de mandar prender o autor grego Sófocles, que morreu há séculos, por causa do conteúdo subversivo de uma peça encenada na ocasião (anos 1960). Satirizando o colunista Jacinto de Thormes (pseudônimo de Maneco Müller), Porto, na pele de Stanislaw, criou uma seção chamada "As Certinhas do Lalau", onde cada edição falava de uma musa da temporada, e muitas vedetes e atrizes foram eleitas "certinhas" pela pena admirável do jornalista. Porto, que morreu de infarto aos 45 anos de idade, não viveu para presenciar o Ato Institucional Nº 5, mas em sua memória um grupo de jornalistas e intelectuais fundou o semanário “O Pasquim”, em 1969.